02 abril 2009
CAMINHO DA GRAÇA: UMA INSTITUIÇÃO?
"O caminho do cartório não institucionaliza o Caminho!"
Graça sobre Graça!
Fico impressionado, meu amigo, com os sentimentos que as palavras ‘estatuto’ e ‘instituição’ causam nas pessoas com quem tenho tido contato no "Caminho" pelos caminhos do Brasil. Alguns já chegam pedindo o estatuto, aí eu me assusto. Ops! Recuo. Não acho que nada natural comece pelo estatuto, muito menos algo que pretende tomar Forma ao sabor do Vento da Essência. Mas, depois que percebo que alguns já estão precisando manusear dinheiro alheio para se manter existindo como grupo reunido num lugar, então, com simplicidade e senso de ocasião, envio o bendito estatuto. E aí, eles que se assustam: “Como? O Caminho da Graça tem isso? Pronto! Era o que faltava! Virou Instituição! Ai meu Deus! Atolei em outra barca furada!”
Desse modo, sei que tem gente que simplesmente quer abrir outra igreja evangélica sob a insígnia do Caminho, e nesse caso, já chegam pedindo os papéis. E tem aqueles que, traumatizados pela experiência da Igreja Institucional, se arrepiam só de ler um simples estatuto civil, com medo da coisa toda se perder.
Portanto, pastor, eu pedi para o Valmir, do Caminho em Santos, transcrever umas palavras suas que ele gravou em Janeiro, durante um Café da Manhã que tivemos com os irmãos aqui na cobertura do meu prédio.
Elas são muito apropriadas para essa hora, e por isso tomo a liberdade de registrar aqui no site a íntegra delas (com sua licença).
Lembro-me de que ainda menino, meu pastor, que é muito querido, me presenteou com a Constituição da IPI do Brasil, num corredor escuro, como quem passa um bastão ou oferece uma arma, a fim de que eu soubesse me defender da “presbiterada” que nos encurralava... Olhei para aquele livrinho azul e pensei comigo: Nossa! Que vida ‘boa’ eu tenho aqui dentro! Antes eu decorava versículos para me defender do diabo, agora decoro artigos para me defender dos irmãos!
Um beijo no ombro, com muita saudade!
Marcelo
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Café com Caio – 26/01/2006
A questão colocada: “Na opinião dos sociólogos, com o passar do tempo, qualquer movimento acaba se institucionalizando". Então, pergunta-se: “O que acontecerá conosco no Caminho da Graça? Iremos passar por um processo de institucionalização, assim como acontece e aconteceu com a igreja?”
Resposta
Inevitavelmente, os homens se instituem. A insegurança humana encontrou na instituição um ente que dá a eles extrema segurança. A garantia de que é uma coisa que o transcende, e o que de mais eterno ele consegue construir no tempo é: a instituição, o estado, o país, a instituição da justiça, do direito, da política. É esse argumento o tempo todo: “o tempo passa e as instituições ficam.”
Provavelmente, hoje a instituição mais antiga seja a Igreja Católica Romana, que é com certeza o último remanescente institucional do Império Romano. O Império Romano teria já acabado de todo, do ponto de vista histórico, se não fora o fato de que a Igreja Católica o mantém vivo. Ela é romana no direito canônico com o qual decide dogmas, doutrinas, todo herdado do direito romano. A geografia dela é em Roma; e a constitucionalização dela foi feita pelo imperador romano Constantino, ela mantém todas essas coisas.
Só estou dizendo isso como ilustração de que Roma como o poder político acabou, mas houve uma instituição que o mantém vivo até hoje, com outra cara, com outra fisionomia, mas carregando a mesma história, a constitucionalidade do mesmo processo... A única e a última a representar que esse poder foi se esfacelando desde os primeiros miolos da fé da era cristã.
Respondendo a pergunta quanto a “...tudo se...” institucionalizar.
Quero dar o exemplo deste casal aqui a minha frente, recém-casados. Hoje eles não estão institucionalizados. Como eu sei disso? Ora, está na cara dela que ela ainda não é uma esposa. Ela é a sua mulher. Está na cara que ele não é assim, um Senhor Marido. Ele é o teu homem! Infelizmente os anos podem ir passando, ir passando e você que hoje diz “meu amor” daqui a pouco diz “bem”, daqui a um pouco diz: “...ei fulano!”, daqui a um pouco o chama de pai, ele a chama de mãe... Mas, vocês não foram lá ao cartório para institucionalizar esse amor e essa aliança. Se vocês foram num cartório, somente para dar uma garantia legal e social (que hoje a lei já garante pelo mero convívio), mas fizeram isto para ver se os demais instituíam para vocês dois, o que, para vocês, está instituído com amor, ternura, amizade, razão pela qual se amam. Isso é casamento segundo a sociedade.
Então, paradoxalmente, até essa coisa que é fruto do amor, da paixão, do desejo, do acolhimento, do valor estético, da beleza do outro, das trocas psicológicas, das carências, dos carinhos, dos devaneios de fantasias mútuas, das responsabilidades divididas, do espírito societário, solidário, santamemte bandido que um casal tem de se ajudar mutuamente de verdade, corre o risco de com o passar do tempo se institucionalizar. Aí o cara era o meu homem, passa a ser o pai dos meus filhos. A mulher que era a minha mulher passa a ser a mãe dos meus filhos. A mulher que eu queria com as minhas vísceras, agora eu quero muito bem, e ainda "a gente tem uma história tão longa e eu o quero tão bem, porque eu me acostumei a ele e ele a mim". E este é um processo de institucionalização que ninguém elegeu presbíteros na casa de vocês, e nem diáconos, nem bispos e veja como se institucionalizou!
Então, institucionalização nunca é um mal das entidades apenas, nunca é apenas aquilo que acontece aos entes inanimados que são donos de logotipos, de registro civil, de estatuto, ou seja, Instituição não pega só neste tipo de coisa, pega em tudo. Porque na coisa em si é que ela não pega. Porque a instituição só pode acontecer em gente, são as pessoas que projetam o que neles está instituído como algo que a instituição será sempre: A soma dos interesses e das divisões da média ponderada dos associados e dos interessados na manutenção desse ente! Mas ele em si, não é nada. Ela, a Instituição, não acorda e diz: bom dia, ela não te dá boa noite! Se o teu pai morrer, a instituição não te diz: sinto muito de todo coração. Se o teu filho nascer, ela não te aplaude. Agora se o teu filho morrer e ela for solidária, não foi ela que foi solidária, é porque tem gente lá dentro que se solidarizou. E ela não existe, só existem pessoas.
Portanto, o primeiro mito a se acabar é essa coisa de que se tiver CGC, conta bancária, um nome ou logotipo, virou uma instituição.
§ Um logotipo não vira instituição.
§ Razão social não vira instituição.
§ Conta bancária não vira instituição.
Só se torna instituição quando os idiotas que são os membros que compuseram isso aí, se empedram, se engessam e se fazem do seu estatutinho, da sua constituiçãozinha, da historinha daquele comecinho, daqueles fundadorezinhos, uma série de abraõezinhos, de izaquezinhos e jacozinhos, e da história deles uma história sagrada. É aí que eles se tornam verbos de Deus na instituição: “No princípio era EU, Deus estava comigo, e sem mim nada do que Deus tentou fazer foi feito”.
Então... este é o processo institucional que só não pega em poste de ferro, que só não dá em muralha de pedra, mas que dá em coração humano. Veja: a gente pode abrir uma firma, com razão social e garantir que ela nunca vai virar uma pedra. Sabe como? Bota ali aquele decreto do reino: “O reino é simples”, faz daquilo ali um decreto e não põe gente nenhuma ali dentro. Ninguém aparece, ninguém dá pitaco. Ela fica lá no cartório registrada e vocês vão vir daqui a uns mil anos, não mudou nada. Fica como está decretado, tudo direitinho. Agora bota gente aí para ver o que acontece! O cara de hoje não é o cara de amanhã... Por exemplo: Você menina, aqui na minha frente tem que idade? 17? Quando eu tinha 17 anos, eu pensava como quem tem 17. Quando cheguei a 23, pensava como quem tem 23. Quando cheguei a 30, me tornei um ser idoso com 138 anos. Quando cheguei aos 40, estava com uma saudade imensa da minha juventude. E hoje cheguei aos 50 com a certeza que tenho só 51 mesmo.
O que estou querendo dizer é simples: as instituições vão mudando na medida em que o viço dos 17 anos e a paixão podem se transformar subitamente numa fixação mandona, tirânica, de realeza cristã, de “eu estava lá desde o princípio, eu sou a pedra angular, isso foi erguido sobre o fundamento do meu apóstolo e dos nossos profetinhas”.
Aí se fizerem de mim, Caio, o evangelho, ferrados estão. Se fizerem do Marcelo, o evangelho, ferrados estão. Se fizerem do melhor momento da Estação daqui de Santos a referência a ser buscada para sempre, danados estão vocês.
Uma piadinha diz o seguinte: quando o Senhor Deus criou todas as coisas, foi tudo lindo e para Deus dizer que está tudo bom é que está um espetáculo, não é? É ele dizendo: Está muito bom, está bom demais, dá até samba... E quando acaba a criação toda, a serpente só estava lá picotando... vendo Deus dizer: Está muito bom, está bom demais. E nem o Senhor resistiu à tentação de ver emitida a opinião de terceiros. E aí chegou para a serpente e perguntou: O que você acha do que eu fiz? E ela falou: Está muito bom, está bom demais. Aí ele disse: É mesmo é? Ela diz: Só está faltando uma coisa. Deus pergunta: O quê? Ela responde: Porque o Senhor não institucionaliza esse negócio inteiro?
Mas, então, veja: a instituição só tem o poder de matar a vida, quando se rendeu à morte fixa e estática do que se está instituindo. Porque se o que está escrito ou instituído é apenas uma referência histórica para o momento de hoje, não é o teto, nem a parede, nem o chão do movimento, é apenas o tabernáculo da viagem, é apenas a tenda que se arma enquanto se caminha, é apenas a estação da jornada, e se cada um de nós souber o único poder de institucionalizar a coisa, é aquele que procede de nós e que esse é um poder simples. Ele não precisa ter um concílio reunido para se fazer instituir (no mal sentido), não precisa eleger presbíteros, diáconos, coisa nenhuma. Este grupo que está aqui pode virar uma porcaria se vocês quiserem, sem precisar eleger ninguém. Basta um coração se sentir superior, basta o cara achar que é dono de alguma coisa, basta alguém se sentir dono da casa, por pedigree, por histórico, um ser mais importante dos que os que forem chegando e basta que a minha vontade seja instituída como mandamento divino. Eu estou me referindo àquelas tentativas de ir fazendo pequenas leis que não são da palavra, que a gente vai chamando de sabedoria de início; depois muda: “É o nosso costume”, depois vai para: “É o nosso modo de ser.” Depois, quando os que começaram já não estão, a gente diz: “Não era assim que se fazia!” ou “Não podemos mudar como era”, “Se mudar nós perderemos a nossa identidade”. Como se eu tivesse perdido a minha identidade porque eu não sou igual ao meu pai.
Geração após geração o que se quer é que novas identidades apareçam, e não que se haja uma clonagem ou repetição das coisas debaixo do sol. Nem o sol se repete, nem o por do sol é o mesmo, nem a lua, que é redonda e nunca apareceu triangular, toda vez que chega. Agora nós temos essa fixação que é fruto da nossa insegurança, de tentar fazer com que algo bom do momento de hoje se cristalize, se engesse, para se tornar definitivo para sempre. Aí a catástrofe se institui e começa com um mover espiritual do coração de alguns, às vezes de alguém, ou quando se transforma numa coisa que recebeu adesão de um número maior, vira movimento. Aí depois que esse movimento anda um pouquinho mais, ele começa a se institucionalizar, nesse processo que eu citei aqui, com a gente dizendo: ”Nós é que sabemos, nós é que marcamos.” É a coisa do xixi do leão, que marca o território, e a institucionalização vai sendo feita da fixação dessa mentalidade, até que o mover vira um movimento e o movimento vira uma instituição que acaba transformando aquilo numa coisa que depois de alguns anos vira um mausoléu.
Concluindo a resposta: Nenhum de nós tem o poder pessoal de decidir quantas gerações à mais nós vamos servir na vida. Se, porventura, o que eu fiz até agora na minha vida e o que eu registrei das coisas que eu creio, vejo e sinto, se tornarem coisas importantes depois que eu não estiver mais aqui, e atingirem outras gerações, sinceramente falando, é um problema de Deus, porque eu não estarei aqui para saber. Então não é uma questão para o cara que já foi, e sim uma decisão divina, fazer com que aquilo que numa geração não tenha sido compreendido, somente uma outra lá na frente venha a ter mente suficiente para discernir o que está sendo dito naquela hora e os contemporâneos não estão compreendendo.
Voltando e usando o exemplo que eu dei de que nem mesmo se porventura alguma coisa do que eu fiz, disse, registrei ou escrevi, virá a ser algo com significado para as outras gerações, que faça bem a outras gerações. Aleluia! Mas eu não estou aqui visando isso e não posso viver de um futuro inexistente.
O único momento que me interessa e ao qual eu ministro é este. A geração que me concerne não é a que virá, é a que está! Assim como nestes 32 anos pregando a palavra, eu já vi muitas gerações mudarem. Pois, quando eu me converti a geração cristã era uma, 10 anos depois era outra, 10 anos depois era outra ainda. Hoje, todo dia eu encontro gente que se converteu de 1998 para cá, quando eu parei de pregar na grande mídia, e que nunca me viu na vida; o que para alguém que viveu os 30 anos anteriores é quase que inconcebível: ”Mas você não conhece esse cara?” Como se ficasse alguma coisa perpetuada ali, um holograma caiofabiano viajando pelo espaço... (Como se para) todo evangélico que se convertesse agora, chegasse aquele grilo falante dizendo: “Oi, eu sou o Caio! Não estou mais aqui, mas já estive, viu!" Não existe isso. Cada um marca sua hora e o tempo.
Então o compromisso do Caminho da Graça não é com a inconstitucionalização dele, jamais. O compromisso do Caminho da Graça é com a geração dele hoje. Mas sem nenhuma fobia institucional, porque o institucional é essencial. Ninguém paga água sem o institucional, ninguém paga luz, ninguém recebe dinheiro sem o institucional. Senão, vira tudo pessoal, a casa da mãe Joana. Então, para ser algo sério tem que ser institucional. Não pode ser a igreja do Caio, do Marcelo. Quem vai assumir isso não tem que ser dois compadres que decidem como as coisas acontecem. Para ser legal (legalizado), tem que ser instituição. Para poder ser legal, para ser auditável, para ser comunitário, para ser de todos conforme a constituição do momento e do tempo histórico do qual nós vivemos. Mas até aí tudo bem, porque eu tenho CPF, RG, título de eleitor, atestado de reservista, certidão de casamento, passaporte, toda essa porcaria e continuo não-institucional. Eu sou eu todo dia. Isso aqui (passaporte) me serve para mostrar para um guarda na fronteira. Passei a fronteira, entro num lugar que me convêm e boto ela no bolso que é o lugar dela, e sento em cima. O cara que viaja a primeira vez fica mostrando: Olha! Esse é o meu passaporte! No meu caso, esse é o meu 10º passaporte, não tem onde botar carimbo nessa droga. Agora tem gente que se pudesse, colocava o passaporte com todas as estampas na testa para todo mundo ver. Esse cara É a Instituição, porque ele não existe do momento, ele existe é da acumulação das supostas conquistas passadas que são dele e tem que ficar estatificadas, tem que virar coroa, vitrine, aquariozinho das memórias de Deus.
Então, em resumo, só não ficará institucionalizado se eles não virarem uns BABACAS! Mas se embabacarem, já era! Mas se mantiverem a alma no Evangelho, a consciência simples, andando no Senhor Jesus, tratando uns aos outros como irmãos, sem se impor uns aos outros, sem evocarem pedigree, sem dizer: “eu cheguei aqui primeiro, sem fazer conta de entrada nem de saída, sem ficar auditando uns aos outros, sem ficar fiscalizando uns aos outros, sem ficar impondo suas próprias decisões pessoais e particulares como sendo leis comunitárias para o outro. Se isso não acontecer não tem perigo nenhum!
E se mantiverem-se atualizadas e crescer, se tiverem o software da graça e do amor, rodando na mente e no coração, e a palavra eterna aqui na mente-coração, toda nova geração vai saber fazer atualização com a propriedade pertinente para servir a própria geração. Se depois que a gente partir, surgirem uns idiotas, e puserem uma placa lá na frente dizendo: “Caminho da Graça – Primeiro Movimento da Grande Reforma Anti-Reformada”, “ Estação Primeira de um Pingo (de Mangueira) de Santos” ou “Estação Segunda da Catedral de Brasília...” Aí, me desculpe, pelo amor de Deus, irmãos, acho que antes da ressurreição, eu levanto dos mortos para embolachar esses tais!
Caio
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